Bahia registra mortes por hepatites em 2024
A hepatite continua a ser uma preocupação para os baianos. De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), em 2023, foram contabilizados 70 óbitos relacionados a hepatites em geral. No caso da hepatite B, 16 homens e 6 mulheres faleceram, enquanto a hepatite C resultou em 29 mortes masculinas e 19 femininas, sem registros de óbitos por hepatite A.
Em 2024, até agora, foram reportados 41 óbitos relacionados a hepatites. Entre eles, duas mortes de homens por hepatite A. Para a hepatite B, foram registrados 5 óbitos masculinos e 8 femininos. Na hepatite C, 14 homens e 12 mulheres perderam a vida, totalizando 26 mortes pela doença até o momento.
A Sesab observa que os dois óbitos registrados por hepatite em 2024 ainda podem ser atualizados, pois o banco de dados pode passar por correções ao longo do ano. Portanto, não é possível realizar uma comparação precisa entre 2023 e 2024, dado que os dados de 2024 são preliminares.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que as hepatites virais resultam em cerca de 3,5 mil mortes diariamente ao redor do mundo. Essa condição é a segunda principal causa de morte infecciosa globalmente, ficando atrás apenas da tuberculose. Dentre as hepatites, a hepatite C é a mais letal, sendo responsável por 76,1% dos óbitos, seguida pela hepatite B com 21,5% e, por último, a hepatite A, que representa 1,5%.
Luciano Kalabric, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explicou que as hepatites são inflamações do fígado e podem ter diversas causas, como o consumo de álcool, medicamentos e agentes infecciosos, incluindo os vírus das hepatites A, B, C, D e E.
O especialista destacou que, apesar de todos esses vírus causarem uma doença clinicamente semelhante, eles pertencem a classificações biológicas diferentes e requerem exames laboratoriais para identificação.
Kalabric ressaltou que a maioria das pessoas infectadas não apresentam sintomas, mas uma parcela menor pode passar por uma fase aguda com febre, fadiga, icterícia (pele amarelada), urina escura e fezes claras. Raramente, essa fase aguda pode evoluir para uma hepatite fulminante, que pode levar ao óbito por insuficiência hepática.
Ele alertou que as hepatites B, D e C podem se tornar crônicas, levando décadas até que o fígado seja comprometido, resultando em doenças graves ou terminais. A hepatite crônica geralmente ocorre em pacientes imunocomprometidos.
O diagnóstico é simples e é realizado por meio de exames de sangue. Os vírus B e C podem ser tratados com antivirais, que ajudam a impedir a infecção, retardar a progressão da doença e, em alguns casos, levar à cura completa.
Kalabric mencionou que existem vacinas para hepatite A e B, disponíveis no calendário do SUS. A vacinação é recomendada para crianças a partir de 12 meses, adolescentes e adultos que ainda não foram vacinados contra esses tipos de hepatite.
Victor Castro Lima, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFBA, esclareceu que as hepatites virais que causam problemas a longo prazo são principalmente a hepatite B e a C, que frequentemente levam a hepatites crônicas.
Ele apontou que o maior problema da hepatite crônica é a progressão para uma doença hepática avançada, conhecida como cirrose. Muitas pessoas acreditam que a cirrose está relacionada apenas ao consumo de álcool, mas outras causas, como hepatites virais, também podem resultar nessa condição.
Castro também alertou que outra complicação a longo prazo associada a hepatites virais crônicas é o câncer, em especial o carcinoma hepatocelular, que pode ocorrer como uma complicação da cirrose ou, em casos de infecção pelo vírus da hepatite B, mesmo na ausência de cirrose.
O especialista ressaltou que é fundamental que pessoas portadoras de vírus da hepatite mantenham um estilo de vida saudável, incluindo exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada e um bom sono. Isso é essencial, pois algumas medicações e substâncias hepatóxicas podem prejudicar ainda mais o fígado.
Ele enfatizou que pessoas com danos pré-existentes ao fígado devem ser especialmente cautelosas com o uso de medicamentos, utilizando-os sempre sob orientação médica, já que alguns podem agravar a condição hepática. Certos chás e substâncias também podem ser prejudiciais ao fígado.
“Além disso, atualmente há uma tendência no uso de anabolizantes e suplementos, muitos dos quais são utilizados sem indicação e sem respaldo científico, podendo também causar danos ao fígado”, afirmou.
Em relação aos grupos de risco, Castro explicou que estão diretamente ligados às formas de transmissão do vírus. Indivíduos que receberam transfusões sanguíneas antes da década de 90, quando os testes diagnósticos eram menos precisos, estão em maior risco de contrair hepatites, especialmente B e C.
Ele acrescentou que pessoas com exposições sexuais de risco ou que já tiveram outras infecções sexualmente transmissíveis também estão em situação vulnerável. Além disso, usuários de drogas intravenosas que compartilham seringas têm um risco aumentado.
Sobre os avanços no tratamento da hepatite, o infectologista destacou os antivirais de ação direta, que são eficazes em curar mais de 95% dos casos de hepatite C. Esses tratamentos estão disponíveis no SUS há cerca de 10 anos. “É importante ressaltar que temos vacinas altamente eficazes para hepatite B e A, mas não há vacina para hepatite C”, concluiu.